terça-feira, março 13, 2012

Um grito pela solidão

Eu ontem gritei o seu nome
Porque eu me senti sozinho,
Como nunca antes me vi,
Como nunca havia me visto tão só,
Tão só como nunca antes me senti.
E para além dessa solidão
Toda a dor do deserto
E os ermos do silêncio
E foi ali que me senti mais só
E gritei o seu nome...
Mas você não me ouviu...

Eu podia tecer meu desespero
Com as linhas mais finas do sofrimento,
Com todas as palavras mais tocantes
E com esses meus gritos emocionantes.
E podia construir nessa dor lancinante,
A maior dor que há no mundo e, mais que isto,
A mais duradoura...
Podia falar todo dia o dia todo
Da agonia de acordar vivo e ainda só.

Mas, em vez disso, eu gritei o seu nome,
Daqui da inutilidade desse silêncio,
Daqui do absurdo dessa escuridão
Do inferno em que fui cair
Eu gritei o seu nome...
Mas você não me ouviu...

Eu podia tirar forças de onde não tenho
E acalentar pobres ilusões que nem existem.
Eu podia fantasiar todo um mundo
E neste mundo uma vida,
Nesta vida, enfim, um amor...
Mas a realidade todo dia me dá na cara,
Eu acordo triste de nenhum sonho,
Eu acordo vazio e transido de medo,
Acordo varrido pelas promessas da morte
E, quando vi que não vi, gritei o seu nome...
Mas você não me ouviu...

E ontem eu me vi triste
Como nunca imaginei que seria,
Como nunca pensei que pudesse ser.
E dei de entender tanto de tristeza,
A tristeza que tortura devagar antes de nos matar,
Tristeza que é cruel e sanguinária, tão ordinária.
E para quem dizer dessa tristeza?
Pela última vez eu gritei o seu nome
E foi mais triste porque me vi mais sozinho.
Da distância da morte eu gritei o seu nome...

Mas você vive e não me ouviu...

Nada além deste dia

Um dia seremos todos felizes.

Talvez um dia, quem sabe?
Algum dia...
Mas não marquemos nada para estes dias distantes
E improváveis...
Pode ser que nem cheguemos lá!

Eu apaguei os rastros do passado
E rasguei todos os mapas do futuro.
Não tenho mais “onde” nem “quando”,
Sou feito apenas de “enquanto”
E não tenho nada além deste dia.

Este dia que não é meu nem seu.
Este dia que não é de ninguém.

Este dia que ainda nem amanheceu.

Este dia que o tempo já esqueceu...

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Era amor

Dói essa dor a doer. É dor...
E cansa tanto viver. É vida...
E sem a dor a vida parece não ser.
A palavra proferida não descansa,
Ocupa-se de me ferir os silêncios.
Os estilhaços dos pensamentos rasgam-me os olhos
E eu nunca sei onde me esconder em minha casa de espelhos...

Havia uns céus vermelhos
Havia tanto sangue na relva
E nenhum rosto estava no espelho
Nenhuma fera habitava mais a selva
Tudo que era vazio veio morar em mim
Tudo que era escuro habitava o meu olhar
Tudo que não era, era tudo que eu tinha
O melhor que tinha, o melhor de tudo
Era que quando eu ia a morte vinha

Nos desencontros a distração
Nos desencantos alguma emoção
Algum sentimento na contramão
Não há boca quando o amor é o pão

Há a solidão e a tristeza de ela ser
Cansa essa dor de viver. É amor...
E essa fome sem pão era amor.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Sou feliz assim

sou feliz assim
com as coisas pequenas,
as mais pequenas,
bem pequenas
do meu tamanho...
com a coisa pouca,
bem pouca,
mesmo que pareça louca
a coisa à toa, a boa, a coisa voa
e a gente voa na vida no tempo
que nos devora de mansinho
que se esgota devagarinho
e acaba de uma vez só...
sou feliz assim
enquanto vivo
e vou vivendo
um dia como um dia só
(não tenho história, tenho cenas...)
os “ontens” acabaram
os amanhãs não vieram
e nem me deram
a chance de poder escolher
entre o que tenho e o que não sou
entre o que eu penso e o que não vejo
entre o que imagino e o que nem desejo
e entre o que não sonho e o que vivo...

segunda-feira, outubro 10, 2011

Perdas e Danos

Muito a contragosto
O olhar se despediu de antigamente
Na boca calada
A palavra amarrada ao silêncio
Um gosto amargo de esquecimento
Por um momento
O coração para e um medo avança
E nada estanca essa dor a escorrer
Hesita o passo de mais essa saudade
E toda a esperança morre em meus braços

E me vejo disposto
A buscar no inferno todos os amores que me mataram
Na alma cansada
Amarrada nesse nada de um tempo que nunca foi
Um gosto sempre amargo de sofrimento
Por um momento
O tempo para e a morte avança
E nada descansa dessa dor a doer
E toda possível idéia de felicidade
É só outra esperança a morrer em meus braços

segunda-feira, setembro 12, 2011

Até tudo se apagar

Olhou-me dentro dos olhos
E não viu o fogo que ardia
Na acolhida de um abraço
Não viu a força de acolher
Foi escolher viver distante
E se esconder no absurdo silêncio
Foi morar no inimaginável deserto
Onde vão dar todos os esquecimentos...

Amou-me dentro da vida
E não viu que era fogo o amor que ardia
Perdida num deserto de esquecimento
Até tudo se apagar assim para sempre
O amor, o olhar, o fogo, a vida...

18/08/2011 – 10:50






Escolho esquecer

Trago até o agora
Todas as histórias do tempo.
E as lágrimas de antanho,
Vertidas no momento,
Inundam uma vida inteira...
Flor ou fruto peçonhento:
Jardim ou pomar, deserto,
(A floresta verdadeira)
Perdido, longe ou perto,
Viver é um momento estranho,
Histórias que ora se perdem
No lá fora, no sem tempo...
No que acabou agora
Bem no topo do momento.

Trago para o fim
Todos os olhares do começo.
E viajo sempre assim
Na dor que mais padeço...
A vida, essa, não é para mim:
Qualquer felicidade eu não mereço,
No deserto tudo acabar assim
Sem ter por mim qualquer apreço.
Trago aqui dentro de mim
Todas as palavras que esqueço,
Essa poesia jardim ou pomar
(Fruto ou flor fenecida...)
Nesse deserto que não tem fim
Entre sonhar, viver, amar
Escolho o que não tem vida:
Escolho esquecer de mim.

terça-feira, junho 28, 2011

Se me pedisses

Se me pedisses, eu perderia minha alma
Se a tivesse...
Se me pedisses eu imolaria o meu corpo
Nas chamas do inferno que nos separa
Se eu pudesse...
Se me pedisses eu reescreveria a história
Apagando os silêncios e as marcas do tempo
Se eu quisesse...
Se me pedisses eu mataria o morto em mim
E renasceria tudo de novo mais uma vez
Mas se eu fizesse...
Temeria morrer novamente por amor
Só de te ver partindo outra vez

É tua ausência a essência dessa dor
E a saudade a marca de minha mudez
Nessa vida a gente só muda de dor
A solidão nunca é a mesma, talvez
Descansa de tua ausência, meu amor
E me traz toda tua dor outra vez...


(01/03/2011 - 18:12)

quinta-feira, junho 09, 2011

Olha-me nos olhos

Olha os horizontes
Não por teus olhos, mas pelos meus
Ouve os rumores mais inquietos
Não dos teus, mas dos meus sentimentos
Ri do que quiseres, chora se puderes
Aprende de teus próprios olhares
A não buscar tanto neles os meus
As minhas não são as tuas dores
Mesmo de amores elas não são de ninguém
Vê o mundo com as suas supostas cores
Que dores e amores eu tenho também

Mas não me tomes nunca por teu
E no que se perdeu não te faças minha
Tua vida é o que ninguém por ti escolheu
É o que se perdeu no que minha vida não tinha

A linha que nos separa é o que sugere
Que se espere que algo nos unifique
E que a qualquer dos dois desespere
E que por amor ou falta dele nos petrifique
Talvez seja tua alma que minha alma fere
Uma querendo partir e outra querendo que fique

Olha-me e nos meus olhos não verás os teus
Em teus olhos eu perdi os olhares dos meus
Um adeus a buscar cores em outros amores
E em outros sentimentos uns novos rumores