quinta-feira, março 29, 2007

29 de março de 2007 - QUINTA-FEIRA

Demora aquela carta de papel, do tipo que se põe no correio, que eu ia escrever essa semana. Ia não, vou escrever! Acho que preciso de um mínimo de inspiração para quase tudo, e essa semana foi um tanto quanto a boa e velha tristeza a assolar-me. Sempre a rotina de coisas e fatos, de conversas e pessoas, as pessoas sempre as mesmas com os mesmos velhos problemas.
Hoje vou escrever aquela carta que se põe no correio, para dizer que estou com saudade e que amo você, ainda que eu não use essas palavras, vou ter que dizer que amo você.
E que você tem feito uma falta tremenda na minha vida. É por isso que eu entendo tudo como tristeza, e essa falta de sentir-se completo.
De vez em quando eu leio as mensagens em garrafas de outras pessoas. Engraçado como todos tratam da realidade que está aí posta a nós todos. Os fatos, as críticas, a informação. Os blogs por aí vomitam informação.
Acontece que sou um cara mal informado. Não tenho televisão e não leio jornal, muito menos revistas, na internet somente as notícias mais superficiais. E não há quem me convença de que é imprescindível estar bem informado.
Uma operadora de telemarketing que queria me vender uma assinatura de jornal um dia ficou estarrecida. Perguntou-me como faço para saber sobre o mundo a minha volta. E eu respondi com uma pergunta: para quê saber? Perguntou-me o que leio e respondi que livros, somente livros. Certo é que leio algumas revistas sobre temas específicos, filosofia e história em quadrinhos (Ah! Hoje em dia tem que se dizer HQ!).
Eu desenho para passar o tempo, leio e escrevo poesia, tenho uma lista de livros para ler, filosofia e literatura, tanta coisa que não fiz em toda a minha vida, quando fiquei bastante tempo assistindo televisão.
Eu construo aos poucos essa metáfora de um náufrago na ilha. Longe de tudo o que desgasta e cansa, tudo tão rotineiro e tão sem graça.
Eu me lembro de todas aquelas conversas que tivemos e sinto uma imensa e horrível (porque insaciável por ora) saudade.
Eu acredito nessa coisa de duas pessoas se darem tão bem a ponto de confundirem isso com amor, mesmo que toda a racionalidade queira provar que o amor não existe e nem a felicidade.
E tudo isso pouco me importa, pois quando eu conversava com você cada minuto, não me preocupava com nada, nem com o amor e nem com a felicidade.
Amemos todo o amor que não existe e sintamos toda a felicidade que não sabemos.
Todo o resto, bem, todo o resto é só informação.

quinta-feira, março 22, 2007

22 de março de 2007 - QUINTA-FEIRA

Eu me lembro que esse blog era para ser sobre discussões filosóficas, por isso o seu nome, mas mudei para “Mensagens em Garrafas”, porque me vi na vida um náufrago e em meu naufrágio encontrei a salvação. Contentem-se com essas cartas, mensagens engarrafadas. Se elas contiverem algum resquício de filosofia ou poesia, será mero acaso. Pouco importa. Encontraram palavras e idéias. Se quiserem outra coisa, usem a imaginação.

Faz tempo que não escrevo aqui. A distância nos fez escravo dos e-mails e nos tornou os maiores contribuidores para a pujança das companhias telefônicas. Mas o que eu mais gosto é de escrever cartas à moda antiga, as famigeradas cartas escritas no papel e à caneta, daquelas que se colocam no envelope e tem que ir até uma agência do correio para enviar.
Para tornar isso mais justificável ( ir até o correio ) cuido de sempre colocar nas cartas alguns anexos: desenhos, marcadores de livros, prospectos. Na última, ou melhor, nas duas últimas, foram três desenhos, o prospecto de uma subida no Edifício Altino Arantes, de onde se vê toda a cidade, um marcador de livros, este, que tinha a foto de uma linda mulher lendo um livro, parecida com você, só pelo fato de ser linda.
Parece coisa do passado, escrever cartas de próprio punho. Mas é que sou do tipo de pessoa que torce sinceramente para um black-out, que será quando farei parte de um pequeno grupo de pessoas que estão acostumadas a ler, desenhar e escreve na penumbra de uma luz de vela. É bom manter um estoque de velas em casa, isqueiros e fósforos. Pode se que alguém ache minha idéia interessante. Talvez sem televisão e sem computador, as pessoas terão que voltar a escrever cartas. Mas que ninguém se iluda em me criticar por falar mal de uma ferramenta que utiliza, neste caso o computador que escreve e publica um post num blog, pois essa minha mania de tradição e antiguidade faz com que eu imprima tudo o que escrevo e mantenha em casa um estoque enorme de meus escritos, em papel, o bom e o velho papel. Que venha o black-out.
Eu tenho até em casa uma máquina de escrever. Mas precisava de outra, queria uma Olivetti Lettera 98 (aceito doações), umas das primeiras com a qual trabalhei.
Saudade de sua voz, de seu rosto, de sua presença pela casa, de seu cheiro na cama. Saudade da vida ser vida para se viver ao seu lado. Agora, nada para quebrar meu silêncio, ninguém para me arrancar histórias, para me inspirar arroubos de pequenas grandes alegrias. Agora tudo como uma lembrança amedrontada do passado, que tem o risco de não se repetir. Você aí e eu aqui. Muita imaginação para se manter o fascínio. Eu me esforço e me desdobro em cartas, essa maior invenção humana, depois da linguagem, da escrita e do papel, é claro.
Escolhi ficar na ilha. Mas escolhi também sair dela para ver você, ou enfeita-la em festa para receber você. Sempre você. Você para sempre.